segunda-feira, 17 de agosto de 2020

BRASIL REGISTRA 6 ABORTOS POR DIA EM MENINAS ENTRE 10 E 14 ANOS ESTUPRADAS


O aborto legal de uma criança de 10 anos que foi estuprada no Espírito Santo virou campo de batalha no Brasil; ele é mais um dos muitos casos de estupro de crianças e adolescentes no país; a cada hora, quatro meninas de até 13 anos são estupradas.



Após autorização judicial, a menina foi levada a outro Estado no domingo (16/08) para interrupção da gravidez. Ela relatou que sofria abusos sexuais do tio desde os 6 anos e que não contava para os outros porque ele a ameaçava. O tio da criança está foragido.

Embora o caso tenha virado pano de fundo de uma briga ideológica e venha sendo tratado como algo inédito, dados oficiais revelam que ocorrem no Brasil, em média, seis internações diárias por aborto envolvendo meninas de 10 a 14 anos que engravidaram após serem estupradas.

Esses casos envolvem procedimentos feitos no hospital e internações após abortos espontâneos ou realizados em casa, por exemplo.

Se o número parece alto para quem não acompanha o assunto, ele é pequeno perto da quantidade de estupros de crianças e adolescentes que ocorrem no Brasil: a cada hora, quatro meninas de até 13 anos são estupradas no país, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019.

"Há uma naturalização desta violência. O pessoal já nem presta mais atenção em menina de 13 ou 14 anos grávida. O pessoal tá começando a prestar atenção na gravidez de 10, 11 anos de idade", diz a advogada Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, que atua no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes.

Ela defende, ainda, que só faz sentido tratar desse assunto a partir de um caso específico se for para mostrar que essa violência é muito mais comum do que se imagina. "É uma história tristíssima. E infelizmente é uma de muitas, o Brasil está lotado de casos como este."

Segundo dados tabulados pela BBC News Brasil no Sistema de Informações Hospitalares do SUS, do Ministério da Saúde, o Brasil registra ao menos seis abortos por dia em meninas de 10 a 14 anos, em média.

 Só em 2020, foram ao menos 642 internações. O país registra também uma média anual de 26 mil partos de mães com idades entre 10 a 14 anos.

Desde 2008, foram registrados quase 32 mil abortos envolvendo garotas dessa faixa etária.

Se forem consideradas as 20 mil internações nas quais constam dados de raça ou cor de pele, 13,2 mil envolviam meninas pardas (66%) e 5,6 mil, de brancas (28%). Esses dados incluem abortos realizados por razões médicas, espontâneos e de outros tipos.

Das 20 cidades com mais internações em números absolutos, todas são capitais, exceto Duque de Caxias (RJ), Feira de Santana (BA) e Campos de Goytacazes (RJ). Não há dados disponíveis sobre o sistema privado de saúde.

 FONTE: G1

 https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/08/17/brasil-registra-6-abortos-por-dia-em-meninas-entre-10-e-14-anos-estupradas.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1&fbclid=IwAR3Yr4ObM9Lh8uNTy8QImLNV8eVhlx8y-SlX27fkb8_xK2izFLBAa_Jm9_I

 

 

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

“MINHA TIA DISSE QUE EU SEDUZI O MARIDO DELA E TOMEI UMA SURRA”

A leitora Paula* foi adotada e sofreu violências no ambiente familiar. Quando tentou contar, apanhou. Hoje, ela cortou laços

“Ao escrever esse relato, passou um filme pela minha cabeça.”


Há 17 anos, meu tio chegou de uma festa com minha tia durante a madrugada. Ele achou que ela estava dormindo e foi ao quarto onde eu estava com minhas primas. Minha tia viu tudo e me acusou de ter seduzido o marido dela, dizendo que ele estava embriagado. Eu ainda tomei uma surra, como se fosse culpada pelo que tinha acabado de acontecer.

No outro dia, minha tia perdoou o marido e eu tive que ficar em silêncio. Virei empregada na casa. Até hoje não tenho coragem de falar sobre o assunto com outras pessoas.

Eles fingiam que nada havia acontecido. O que me dói é minha tia ter achado que eu era uma ameaça ao casamento dela, como se eu tivesse permitido o abuso.

Um ano depois daquela noite, outro tio me trancou no banheiro e me fez tocar o pênis dele. Ele ameaçou falar para todo mundo que eu tinha chamado ele até ali para satisfazer seus desejos.

Sofri muito. Sou adotada e algumas pessoas da família não aprovaram a minha chegada. Sempre me fizeram de empregada e falavam que eu era uma coitada. Até hoje tenho trauma dessa época. 

Eu me mudei para outro estado, casei e tive um filho, que não convive com minha família adotiva. Pude compartilhar todos esses traumas com meu marido e hoje conheço o amor verdadeiro.”

A partir de agora, CLAUDIA mantém esse canal aberto e oferece acolhimento para quem quiser libertar as palavras e as dores que elas carregam. 

Fale com CLAUDIA em falecomclaudia@abril.com.br.

FONTE: REVISTA CLÁUDIA


terça-feira, 16 de junho de 2020

PEDOFILIA – COMO FUNCIONA A MENTE DOS ABUSADORES DE CRIANÇAS


80% DOS CASOS ACONTECE NO LAR DA CRIANÇA, E AS FAMÍLIAS TENDEM A FICAR EM SILÊNCIO.


 Ela tem apenas 9 anos. No mesmo site de nudez infantil, há uma menina de 11 anos, despida numa praia do Báltico, mais uma infinidade de fotos de bebês ainda lactentes, pequenos seres naquela fase em que ainda choram para pedir a atenção carinhosa dos pais.

O que leva alguém a excitar-se sexualmente com crianças? Como explicar a mera existência desse distúrbio? Na semana passada, o youtuber PC Siqueira foi acusado de pedofilia.  Ele nega, e diz que a suposta evidência contra ele foi forjada. Independentemente do desfecho desse caso, o fato é que a repercussão dele trouxe o assunto de volta à tona.
E vamos começar pelo ponto principal: a raiz da pedofilia está num conceito torpe de dominação. “A criança nunca é parceira na relação de um pedófilo, mas seu objeto, pois se trata de um ser indefeso, dominado sadicamente”, afirma o psicanalista carioca Joel Birman, que atende em seu consultório antigas vítimas de investidas de adultos. “Usar uma criança como objeto sexual é ter uma ilusão de potência”. Tal ilusão excitaria o pedófilo.
O psiquiatra francês Patrick Dunaigre, especializado no assunto, defende a existência de dois tipos de pedofilia: a “de situação” e a “preferencial”. A primeira talvez seja o tipo mais difícil de detectar. Alguns adultos, principalmente homens, atacam crianças sem, no entanto, se sentirem excitados com elas. O ataque não envolve necessariamente relações sexuais mais diretas, como penetração. A agressão pode ser uma carícia disfarçada de inocente cócega ou mesmo beijos em partes mais íntimas do corpo infantil. Na maior parte dos casos são crimes isolados e que, muitas vezes, não irão se repetir no futuro.
O segundo tipo de pedofilia, o “preferencial”, é o mais conhecido. Ocorre quando o agressor deliberadamente escolhe bebês e crianças na pré-puberdade – antes dos 13 anos – como obscuros objetos para sua satisfação sexual. Na maior parte dos casos é praticada por um adulto que adquire a confiança da vítima.
Glenn Wilson, professor de Psicologia na Universidade de Londres, Inglaterra, realizou extensa pesquisa para definir o padrão de um pedófilo típico. De acordo com ele, a maioria dos tem entre 30 e 45 anos e é do sexo masculino (95%). Desses, 71% abusam preferencialmente meninos, de 12 a 15 anos.
Uma estatística mais conhecida, e não menos revoltantes: 80% dos casos ocorrem na intimidade do lar: pais, tios e padrastos são os principais agressores, de acordo com o psicólogo David L. Burton, especialista em agressão infantil da Universidade de Michigan.
“Há um pacto de silêncio”, denuncia o psicólogo Antônio Augusto Pinto Júnior, coordenador do Centro de Referência à Infância e à Adolescência de Guaratinguetá, município do interior paulista. Antônio Augusto, que atende crianças que sofreram abuso sexual dentro de casa.
Um dos casos atendidos pelo psicólogo é o de uma menina de 13 anos, abusada pelo avô. Detalhe: suspeita-se que o avô, na verdade, seja pai da menina, pois anteriormente ele mantivera relações sexuais com a mãe dela – e filha dele. Episódios aterradores (e comuns) como este são pouco divulgados. “A mãe geralmente é cúmplice do abuso”, afirma Antônio Augusto.
Por medo da reação da sociedade, grande parte dos casos de pedofilia familiar não vêm à tona. “Os casos são muito mais numerosos do que nós sabemos”, diz a coordenadora do Lacri, a professora de Psicologia da USP Maria Amélia Azevedo.
Não fica nisso, claro. Países como Sri Lanka, Filipinas e República Tcheca abrigam mercados de turismo sexual – e o Brasil está nessa lista. É comum ver, nas praias do Nordeste, parrudos europeus desfilando com meninas e meninos completamente imaturos para qualquer relação íntima.
As conseqüências nas crianças molestadas são as piores possíveis. O abuso provoca danos na estrutura e nas funções do cérebro, incluindo aquelas que desempenham papel importante na cognição, na memória e nas emoções.
Depressão, propensão a abuso de álcool e drogas são algumas das seqüelas observadas pelos pesquisadores. A maioria percebe que, mais crescidas, as crianças costumam apresentar problemas ligados à sexualidade – de inibição e pavor ao sexo a comportamentos que podem se transformar em pedofilia. O círculo vicioso, então, se completa – e deixa atrás de si um rastro de frustração, raiva, medo e silêncio.
Acabar com esse silêncio é um dever de cada um de nós.
Esta é uma adaptação da reportagem Inocência Roubada, publicada originalmente na versão impressa da SUPER, em abril de 2002. Atualizado por Alexandre Versignassi. 

Por Leandro Sarmatz - Atualizado em 15 jun 2020, 18h03 - Publicado em 30 abr 2002, 22h00

FONTE: REVISTA SUPER INTERESSANTE




quinta-feira, 11 de julho de 2019

CELULAR - A NOVA CHUPETA

🧚🏼‍♀️ Uma fada morre cada vez que você dá um celular na mão de uma criança menor de 2 anos. 🧚‍♂️



🍭Sabe aquela recomendação de não dar açúcar antes do 2 anos pois eles ainda estão em formação do paladar?
Com as telas é igual. Crianças pequenas estão formando o seu “paladar” de interesses. As telas atraem DEMAIS! E tiram o foco de outros estímulos tão importantes para o seu desenvolvimento.
🥦 Imagina uma criança que não quer comer brócolis. Cada vez que ela recusa o brócolis, seus pais dão a ela batata frita. O que vocês acham que vai acontecer? Bem óbvio né? Só vai querer a batata. É muito mais gostoso para ela. Ela não sabe dos benefícos nutricionais do brócolis. Não sabe dos prejuízos que o excesso de fritura pode trazer a longo prazo. Quem sabe disso (ou deveria saber) somos nós adultos.
📱E se você dá um celular cada vez que a criança fica entediada, cada vez que ela faz birra, cada vez que ela se recusa a fazer o que você pediu... Adivinha o que acontece? Ela não sabe que jogos de encaixe estimulam mais o cérebro do que assistir desenho. Não sabem que livros e músicas são melhor para linguagem do que um tablet. Não sabem que estar com os amigos é muito melhor para a interação que ver a Galinha Pintadinha. Elas só sabem que as telas são muito mais ATRAENTES!
🔹 Percebo que muitos pais ainda desconhecem os malefícios do excesso de telas na infância. Que a recomendação atual é de ZERO telas até no MÍNIMO os 18 meses. E que depois elas podem ser usadas por curtos períodos sob supervisão. Tenho visto cada vez mais crianças dependentes de telas. Cada vez mais cedo. Nenhuma família deixa isso acontecer de maneira consciente. É aos poucos, por um descuido, por achar que só um pouco não faz mal e quando vê...
🔹Então decidi que vou continuar falando sobre isso sempre. Essa vai ser minha bandeira. Nossas crianças tem um mundão para explorar e aprender, não vamos deixar que a tecnologia as cegue.

Luciane Baratelli
Neuropediatra

POSTAGEM ORIGINAL: NEUROPEDIATRIA SEM NEURA

terça-feira, 9 de julho de 2019

NÃO PUBLIQUE AQUELA FOTO DO SEU FILHO NAS REDES SOCIAIS


Três em cada quatro crianças com menos de 2 anos têm fotos na Internet. Deveríamos frear esse costume?




Nossas redes sociais estão repletas de imagens de crianças fazendo fofices. Nas férias, sua superexposição aumenta mais ainda, se é que isso é possível. Cada foto é compartilhada – sem consentimento algum – pelo pai, a mãe ou algum familiar ou amigo, para orgulho de quem compartilha e para deleite de seus conhecidos. Recebe-se um monte de curtidas e até algum elogio, o que leva a reincidir. É assim há vários anos, sem que ninguém pense nas consequências. Até que, acompanhando os crescentes receios em torno das redes sociais, uma dúvida começou a se espalhar: será que estamos fazendo mal ao postar tantas fotos de crianças?

Três de cada quatro crianças com menos de 2 anos têm fotos on-line, segundo um estudo da empresa de segurança digital AVG com dados de cidadãos de 10 países (Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido, França, Espanha, Itália, Austrália, Nova Zelândia e Japão). A emoção de ser pai ou mãe é uma das causas por trás dessa compulsão, a versão atualizada dos retratinhos guardados na carteira. Em média, os pais de crianças menores de 6 anos publicam 2,1 informações por semana sobre elas, segundo um estudo com informação de 1.300 pais norte-americanos do aplicativo Local Babysitter.

Dos 6 aos 13 há uma queda na corujice: 1,9 informação por semana. Quando o(a) adolescente completa 14 anos, o ímpeto se reduz a menos de uma menção por semana (0,8). Na Espanha, segundo a AVG, os pais são os mais preocupados com as futuras consequências para seus filhos da enorme quantidade de informação on-line que proporcionam a respeito deles (avaliam seu grau de preocupação em 3,9 sobre 5). Esta preocupação possivelmente tenha sido reforçada quando se soube que Mark Zuckerberg – o homem que mais fez para compartilharmos como compartilhamos – considera que o futuro, em vez de aberto, como sustentava até agora, será privado.


Os riscos aos quais os menores se veem submetidos são vários. Para começar, facilitamos que criminosos e pervertidos os localizem fisicamente. Mas há também outros riscos de origem digital. Se alguém capturar uma imagem ou um vídeo de um menor, pode simular que este sofre algum tipo de ameaça e exigir um resgate. Também pode suplantar sua identidade nas redes, como já aconteceu com várias influencers. Se, além disso, ao anunciar o nascimento de um bebê acrescentamos a data (coisa que muitos pais fazem), poderíamos estar propiciando o roubo de sua identidade. Para não falar do ciberbullying que poderemos causar ao postar uma foto ridícula do nosso filho (calcula-se que 59% dos menores tenham passado por isso em 2018, segundo o instituto Pew Research).


Stacey fecha seu texto com várias recomendações aos pais interessados em proteger seus filhos: familiarizar-se as políticas de privacidade das redes em que postam fotos; criar alertas que avisem quando o nome de seu filho sair em algum resultado de busca no Google; cogitar não revelar a identidade da criança na hora de contar algo; pedir permissão a elas antes de compartilhar uma informação a seu respeito; nunca publicar fotos delas com pouca roupa; e, finalmente, considerar se essa informação que você está cogitando compartilhar pode ter algum efeito sobre o bem-estar e o desenvolvimento psicológico do pequeno.


FONTE: EL PAÍS




domingo, 28 de janeiro de 2018

HOMENS ABUSADOS SEXUALMENTE QUEBRAM SILÊNCIO DE DÉCADAS COM AJUDA DE ASSOCIAÇÃO


A "Quebrar o Silêncio" foi fundada a 19 de janeiro do ano passado por Ângelo Fernandes. Já recebeu 84 pedidos de ajuda



Em apenas um ano, desde que foi criada para ajudar homens abusados sexualmente, a associação "Quebrar o Silêncio" recebeu 84 pedidos. A maioria foi vítima durante a infância, mas só teve coragem de denunciar o crime décadas mais tarde.

"Quebrar o Silêncio" foi fundada a 19 de janeiro do ano passado por Ângelo Fernandes para ajudar homens que, como ele, foram vítimas de abuso sexual. Desde então, e em média, todas as semanas recebe mais do que um pedido de ajuda.
Em entrevista à agência Lusa, Ângelo Fernandes contou que foi abusado por um amigo da família quando tinha 11 anos, um segredo que só teve coragem de revelar aos 33 anos quando vivia no Reino Unido e encontrou ajuda numa associação que apoiava homens vítimas destes abusos.
Quando regressou a Portugal decidiu fundar a associação para ajudar outros homens que passaram pelo mesmo problema a partilharem o crime que viveram.
"Até agora, tivemos 84 pessoas que nos procuraram, a maioria homens, mas também familiares ou amigos que acabam também por ser afetados pelo abuso e precisam de algum apoio ou de saber como podem apoiar" as vítimas.
A maioria (80%) procurou ajuda pela primeira vez. "São homens que, em média, passaram 25 anos em silêncio", disse Ângelo Fernandes, explicando que "foram abusados sexualmente na infância" e só conseguiram pedir ajuda já adultos.
A idade média destes homens é de 36 anos, tendo o mais novo 22 e o mais velho 65. Na maioria dos casos, o abuso ocorreu entre os zero e os 11 anos e teve uma duração média de entre três e quatro anos, sendo que há casos que duraram dez ou mais anos.
Segundo Ângelo Fernandes, os longos anos de silêncio devem-se a "uma vergonha imensa" das vítimas causada pelas "estratégias de manipulação" dos agressores, que as fazem acreditar que foram responsáveis pelo abuso, porque o deixaram acontecer ou porque não foram capazes de o evitar.
"O peso dos valores tradicionais da masculinidade" que dizem que o homem tem que ser forte ou que não pode chorar também contribui para que "muitos homens não falem, não partilhem e não procurem apoio".
Há ainda outros fatores, como o facto de muitos homens acreditarem que o abuso sexual só afeta mulheres e que eles são "o único caso" e a ideia de que "os homens são sempre os agressores, nunca vítimas".
"Há uma certa resistência em reconhecer que os homens também são afetados pelo abuso sexual, quando na verdade um em cada seis homens é vítima de abuso antes dos 18 anos", elucidou, sublinhando que todas estas situações fazem com que apenas 16% reconheçam que foram vítimas.
Outra "ideia errada" prende-se com as pessoas pensarem que "os agressores são estranhos". Em cerca de 90% dos casos, o agressor conhecia o rapaz ou a criança, porque era familiar ou conhecido da família. "Foi o meu caso", desabafou, contando que o seu agressor era um "amigo da família, uma pessoa de confiança".
Inicialmente, o agressor cria "uma relação de confiança, de amizade, para que a criança se sinta segura. Depois, tal como aconteceu comigo, vão introduzindo o toque e vão sexualizando gradualmente a relação para que a criança não tenha consciência do que está a acontecer" e até se sinta responsabilizada pelo abuso.
"Eu cresci a achar que tinha sido o responsável e que tinha sido eu até a seduzir um homem de 37 anos quando eu tinha apenas 11 anos", comentou o fundador da primeira associação portuguesa com apoio especializado a estas vítimas.
Além do acompanhamento das vítimas, a associação realiza sessões de sensibilização nas escolas, "onde se abordam temas para lá do abuso sexual".
Os próximos desafios passam por uma maior visibilidade da associação para poder "chegar a mais homens". Os que já pediram ajuda dizem que finalmente encontraram um espaço onde puderam partilhar a sua história e onde alguém acreditou no que diziam, explicou, lamentando que ainda exista "uma cultura de responsabilização das vítimas.
Para assinalar o primeiro aniversário, a associação lança hoje um "guia para homens sobreviventes de abuso sexual" e o vídeo "26 anos em silêncio".
FONTE: DN PORTUGAL

https://www.dn.pt/portugal/interior/homens-abusados-sexualmente-quebram-silencio-de-decadas-com-ajuda-de-associacao-9058972.html



segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

BRASIL, O PAÍS DA PEDOFILIA


Dados divulgados pela Polícia Federal, com base em levantamento da ONG Censura, apontam que 76% dos pedófilos do mundo estão no país, onde o crime acontece a cada oito minutos


"Eu tinha dez anos. Minha mãe trabalhava fora e estava sempre viajando. Meu padrasto ficava mais tempo em casa. Ele me criou desde que eu tinha quatro anos. Um dia, invadiu meu quarto, tapou minha boca e me atacou". As lembranças de Andreza, hoje com 30 anos, vêm como um grito tardio de mais uma vítima da pedofilia. A cada 15 segundos uma criança é abusada sexualmente no mundo. No Brasil, o crime se repete a cada oito minutos. As informações foram divulgadas pela Polícia Federal e se agravam com a constatação de que o país concentra 76% dos pedófilos do planeta, além de ser o líder na internet quando o assunto é pornografia infantil.


"Na primeira vez, eu esperei a família se reunir e contei. Tenho uma irmã mais nova e tinha medo que ele fizesse algo com ela também. Mas minha mãe não acreditou. Ele, claro, negou. Ela disse que eu estava inventando, que era coisa da minha cabeça. Foi a brecha para tudo continuar", desabafou. "Ele me abraçava, me beijava e me levava para o quarto. Tirava a minha roupa, tirava a dele, me tocava, se esfregava em mim, passava as partes íntimas dele na minha e se masturbava. Eu tentava escapar, mas ele era muito mais forte. Tentava gritar, mas ele me calava. Sempre dizia que ninguém acreditaria". 

O relato de Andreza se confunde com outros silenciados pelo medo e vividos à sombra da incredulidade. De acordo com a Polícia Federal, na maioria dos casos, o abusador é alguém próximo à vítima, familiares ou vizinhos. Em Pernambuco, somente este ano, foram deflagradas cinco operações de combate em 13 municípios. 

Com a internet e a limitada legislação sobre crimes cibernéticos, a pedofilia ganhou forma de atuação ainda mais difícil de se conter. Começa com uma conversa despretensiosa. Com um clique, a troca de fotos e vídeos está feita. Em apenas um minuto, cresce a estatística. Números que são agravados pela invasão, a cada mês, de cerca de mil novos sites com conteúdo pornográfico infantil.

Pela lei, produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente é crime. Assim como agenciar, facilitar, recrutar, coagir ou intermediar a participação dos menores de idade nas imagens. "O que pouca gente sabe é que trocar esse conteúdo e armazená-lo também são crimes passíveis de prisão. As pessoas não têm noção do que significa pedofilia, mas estamos atuando de forma enfática para inibir esses atos", explica o assessor de comunicação da Superintendência da Polícia Federal em Pernambuco, Giovani Santoro. No mercado negro, a imagem de uma criança nua pode valer R$ 1 mil. Um vídeo com cenas de sexo envolvendo menores de idade pode custar até R$ 10 mil. As cifras e os entraves na legislação favorecem a proliferação dos atos criminosos.

De acordo com a Polícia Federal, os pedófilos gastam, em média, sete minutos para atrair a vítima. No entanto, há casos em que a abordagem acontece em apenas um minuto. "Meninas têm dez vezes mais chances de serem alvos que meninos. E, em 99% dos casos, os pedófilos são homens entre 25 e 35 anos", alerta Giovani Santoro.

Entre 2013 e 2014, 500 pedófilos foram presos no Brasil. Em Pernambuco, no mesmo período, foram instaurados 76 inquéritos com 42 mandados de busca cumpridos em 24 cidades com registro de pornografia infantil. Sete suspeitos foram presos em flagrante. No mapa da PF, os estados com maior número de casos registrados são Brasília, Espírito Santo e Rondônia. Pernambuco aparece em 8º lugar no ranking nacional. "Hoje, quando lembro do que houve, sinto como se fosse uma ferida que nunca cicatriza. Em nenhum momento você vai aceitar ou apagar aquilo. Tem gente que pensa em matar, em morrer, mas eu agradeço a Deus por estar bem. Olho para trás e vejo que consegui superar. Casei, construí a minha família, tenho um filho lindo e sigo em paz", conta Andreza. A mãe e o padrasto permaneceram juntos por 20 anos. O relacionamento acabou em 2014. A família vivia, na época, em Vila Rica, Jaboatão dos Guararapes. A mãe ainda não acredita que ele tenha sido capaz de se aproveitar da filha.

Os números divulgados pela Polícia Federal foram apresentados pelo advogado, ex-deputado federal e um dos membros-fundadores do Partido dos Trabalhadores Luiz Eduardo Greenhalgh à embaixada norte-americana em Brasília e são frutos de pesquisa da ONG Censura. De janeiro de 2006 a outubro de 2012, 40,5% do que foi denunciado na internet abrigava conteúdo pornográfico infantil. Foram 224,6 mil endereços citados, neles, 76% dos acessos eram oriundos do Brasil. Nas publicações, 52% continham crimes contra crianças de nove a 13 anos e 12% contra bebês de até três meses de idade (com fotografias). 

Homens, mulheres, jovens, idosos, ricos, pobres, brancos, negros, todos podem ser criminosos em potencial. Não é possível traçar um perfil para a identificação de pedófilos. A Polícia Federal, no entanto, aponta padrões de comportamento que devem despertar a atenção de pais e responsáveis.

Usualmente, os acusados possuem poucos amigos na mesma faixa etária, costumam ter quartos decorados com motivos infanto-juvenis, passam muito tempo com crianças para conhecer seus gostos e atraí-las, são simpáticos, superprotetores e, vez por outra, tocam a criança "acidentalmente". Também é comum que busquem vítimas com pouca ou nenhuma supervisão dos responsáveis. Costumam frequentar locais como shopping centers, parques e praças, além de áreas próximas a escolas. "Na maioria dos casos, eles não matam quando cometem os abusos. O objetivo é outro", explica o Santoro.

Para não serem identificados, optam por computadores de lan houses, usam perfis falsos e negam a idade, nome e endereço. Em muitos casos, se passam por crianças e adolescentes para se aproximar das vítimas. Usam as informações fornecidas pela própria criança para saber como se apresentar. Para atrair, falam sobre comida, cinema, música e roupas até chegar no assunto "pais" e descobrir o horário em que estão em casa. "Eles abordam temas sexuais de forma sutil e delicada para reduzir a inibição e cativar as vítimas. Falam em uma linguagem mais infantilizada. Perguntam onde fica o computador e se tem alguém vendo a conversa dos dois, demonstram interesse pelos problemas das crianças até convencê-las a ligar a webcam para fotografar e filmar. Chegam até a fazer declarações de amor", esclarece o assessor da PF, lembrando que a ameaça vem em seguida. No intuito de calar as vítimas, dizem que podem divulgar as imagens a qualquer momento caso elas contem o que aconteceu. 


FONTE: DIÁRIO DE PERNAMBUCO

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2015/08/17/interna_vidaurbana,592228/brasil-o-pais-da-pedofilia.shtml#.WdIwdEDx8Fk.facebook